segunda-feira

Peruas em trânsito



Amigas,

Estava comentando com uma amiga sobre a incrível sensibilidade e conhecimento da alma humana que um astrólogo deve ter pra conseguir traçar perfis tão precisos das pessoas. A resposta: as pessoas é que na verdade são todas muuuuuito parecidas, apesar de nossas ilusões de individualidade. Isso vindo de uma das mulheres mais originais que conheço!

Pra ser franca, eu sempre detestei todos esses sistemas que pretendem categorizar a raça humana em "tipos" de personalidade. Mas com a idade estou começando a desconfiar que somos mesmo biscoitinhos produzidos em série a partir de uma meia-dúzia de moldes. Uma coisa é certa: nesse momento pós 30 anos, sou diariamente acometida por um tremendo sentimento de identificação com a mulherada que me rodeia. Isso é completamente inédito na minha vida! De Dorothy Parker ao Sex in the City, o mundo está (super-)povoado de mulheres às voltas com exatamente as mesmas questões que eu, das mais fúteis às mais filosóficas! Vide o texto abaixo, ainda que não seja o exemplo mais profundo. Troca o nome dos estilistas, e essa pessoa poderia ser eu!



" Era bem de madrugada quando um amigo falou do além: sabia que eu sempre te encontro em lojas? Na mesma hora um outro amigo disse: é mesmo, a última vez que eu te vi você tava na Theodora! E no meio daquela madrugada carioca, nomes de lojas e estilistas começaram a ser ditos acusatoriamente para mim: Sommer, Herchcovitch! E todos concordavam: Você estava lá! Você estava lá!

" Sim, descobriram o meu segredo. De um tempo para cá eu surtei e virei uma pessoa que tem mais roupas do que consegue usar. Uma coisa que não combina muito com a minha história nem com a minha personalidade (passei a achar que a minha personalidade mudou).

" Vou escrever agora um monte de desculpas para mim mesma para que ninguém ache que eu sou a pessoa mais fútil do mundo.

1- É trauma de adolescência. Sim, porque eu não tinha dinheiro para comprar muitas roupas da Company. Não tinha roupa para ir a festas de 15 anos. E eu era magra demais, tinha o cabelo curto demais e por isso ninguém queria ficar comigo.

2- É coisa da idade. Sim, porque quando você passa dos 30, uma perua nasce dentro de você e começa a tomar formas estranhas. Algumas amigas minhas passaram a amar a academia. Outras, móveis. Eu, as roupas.

3- Eu trabalho muito. Tá, essa desculpa não vale. Mas é verdade. Sou escrava. E comprar roupa é uma maneira de eu me sentir menos explorada.

4- Eu tinha dificuldades para assumir a minha feminilidade. Demorei um bom tempo (haja divã) achando que não dava para ser ao mesmo tempo mulherzinha e inteligente.
[...] "

O texto acima, cuja autora desconheço, me foi encaminhado por C., outro mulherão / mulherzinha de primeira qualidade. Sei que nem todas as balzacas do mundo hão de se identificar inteiramente com ele. Tem o "tipo" que não precisou esperar até os 30 pra libertar a perua dentro de si. E o que talvez nunca passe por essa troca de plumagem. Mas sei de váááárias outras irmãs que poderão se ver nessas linhas. Orgulhemo-nos disso, amigas! As variações são realmente pequenas. É por isso que a gente se entende.

Beijos carinhosos

Kika (hoje tão estranha quanto vocês!)

Nenhum comentário: