segunda-feira

X-Filé



Queridos,

Descobri duas coisas recentemente que me deixaram perturbada. Uma é que está saindo um livro aí chamado "Kika, a estranha." Não sei por que, mas me identifico misteriosamente com o título desta publicação. Será uma biografia não autorizada? Ou será que todas as kikas são estranhas? (a de Almodóvar ganha até de mim...)

Depois veio o papo das abduções. Comentei com a Renatinha que 90% das vezes em que eu olho o relógio (seja de pulso, do celular, do computador, da rua, do metrô...), a hora marcada é 13:13, ou 21:21, ou 07:07 etc etc. É verdade mesmo, chega a ser meio preocupante. Ela me contou que - segundo a conceituadíssima revista científica Super Interessante - as pessoas que têm isso foram ou serão abduzidas por alienígenas em algum momento da vida.

Será que tudo isso explica porque ando, assim, meio desligada... justamente quando devia estar sentindo os meus pés no chão? Afinal, só tem coisa boa acontecendo na minha vida: minha casa está linda e estou adorando morar onde moro. Meus amigos e família são todos figuras ótimas, sem exceção (mesmo os loucos são maravilhosos). Estou trabalhando só com coisas que me dão prazer, só com pessoas agradáveis e interessantes. Um surto de mecenato familiar vai me render um apartamento muito em breve. E ainda rolam umas milhas aéreas pra fazer uma viagem a um destino de minha escolha!

É, meus caros... agora que o Sr. Serra se acostumou a ser embaixador, eu sou oficialmente uma filhinha de papai. É chegada a hora de engolir meus 33 anos de desdém pelos valores burgueses... Daqui a pouco estou usando argolinha de ouro e bolsa da Louis Vuitton. Quando é que o Collor vai se re-candidatar??



...Será por isso que estou me sentindo tão borocoxô? Será meu lado trotskista se revirando dentro de mim diante dessa nova configuração dos fatos? Uma luta de classes interior?!

Porra nenhuma. É dor de cotovelo, mesmo.

A realidade é que depois de muuuuuitos anos de vácuo emocional, eu me apaixonei. Perdidamente. Desde que me divorciei, tive lá meus romances, desses que vêm e que vão sem deixar marcas: caras mais velhos, caras mais novos, cariocas, pernambucanos, gaúchos, you name it. Não existe um molde de homem que me agrade, o que eu estou sempre buscando é algo muito subjetivo, uma... sensação. Coisa que há muito tempo eu não sentia. Esse prazer absoluto na companhia de uma pessoa... esse afeto sem fundo nem fim... esse tesão alucinanteeeee...

Eu vi todos os sintomas. Mas demorei a perceber - demorei a admitir - que, dessa vez, eu estava mesmo in love again.

Talvez porque - pela primeira vez na minha vida - esse sentimento não fosse recíproco. Já rolou atração não correspondida, carência não correspondida, piração-na-batatinha não correspondida (quem sabe, sabe), mas juro: todas as pessoas que eu a-m-e-i me amaram também. Ou pelo menos me enganaram muito bem.

Luciano não me ama. Gosta de mim, mas nunca me amou. Vocês não imaginam como isso é devastador.

Primeiro dei ataque de mulherzinha e quis cortar o garoto de minha vida totalmente, numas de curar o orgulho ferido com o esquecimento. Nada feito. Não dá, ele é querido demais. É uma alegria muito grande conhecer esse homem tão adorável e poder desfrutar da simples existência dele. Eu, que sempre busquei ver as situações que se apresentam na vida como uma oportunidade de me melhorar "enquanto pessoa humana", resolvi tentar tirar alguma lição desse desencontro... Tinha que me concentrar com todas as forças só nessa alegria... A dor? A dor você transforma em algo mais saudável, mais sábio, por algum processo de alquimia qualquer.



É preciso ir fundo, cara-pálida: não é mole, não. Até no Budismo eu fui buscar consolação. O esforço psicológico e filosófico tem sido tamanho, que eu acho até que consegui. Sofrer pelo moço, há muito já não sofro mais. Me acostumei ao fato de não fazer parte da vida dele, e a aproveitar os momentos de pura delícia que ele tem pra me oferecer... O que tenho com ele é muito gostoso, sincero, divertido, e pra mim está ótimo assim.

Acontece que, por mais que você consiga varrer seus anseios para o subconsciente, eles ficam lá, puxando o tapete da sua auto-estima. Por baixo de toda essa fachada zen, tem uma mulher gritando descabelada: WHY, WHY, WHY??? Por que o destino põe um homem tão perfeito no meio do meu caminho só pra ele não gostar de mim???!

É porque sou feia.
É porque estou velha.
É porque - é evidente - sou Kika, a estranha... Cobaia de alienígenas e mal-amada pelos terráqueos!

Conclusão: você supera heroicamente a dor de cotovelo só pra mergulhar numa crise existencial. Maravilha.

Amigos, me ajudem. Digam que não sou tão unlovable assim! Digam que outro homem encantador e maravilhoso seria capaz de gostar desse meu jeito, hmmmm, digamos, "peculiar" de ser! Pode ser mais novo, mais velho, pernambucano, gaúcho, o que for! Contanto que goste de mim e de minha futura coleção de bolsas Louis Vuitton.

São 11:11. Escrevo de novo depois de dar umas voltinhas de disco voador (esses E.T.s também bem que podiam me dar uma luz...)

Beijos e afagos em todos

Kika

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