“São uns cavalos em cima de você! Te atropelando!!”
Kika, muita atenção agora. Faça que sim com a cabeça, e espere que a próxima frase te ajude a captar tudo o que você perdeu. Anda, Adriana... Uma pista, vai! Mas a amiga não vai me dar essa colher de chá, né? A maldita aguarda um comentário meu, vestindo a expressão mais ansiosa de seu repertório. Sou salva temporariamente por algum querido que pipoca no msn neste instante (estamos sentadas no meu escritório): tenho assim uma desculpa pra fugir de seu olhar inquisitivo e teclar alguma amenidade no computador, enquanto, na minha cabeça, busco desesperadamente o fio da meada. Traço e retraço os passos de nossa conversa recente, mas não adianta: por nada neste mundo consigo me lembrar como é que os tais cavalos vieram parar em cima da Adriana.
“Por que a cara de reprovação?!”
Hein? Quer dizer que o meu semblante de quem perdeu a
concentração há uns cinco minutos se assemelha a um nariz torcido? Vai entender... Mas, como meu google search mental
não retornou mesmo nenhum resultado, sou obrigada a confessar que não estou
criticando ninguém: não entendi bulhufas daquele papo de cavalos e
atropelamentos. Para o meu alívio, a essa altura, nem a Adriana se lembra mais.
Meno male! Rimos um bocado de seus delírios eqüestres e voltamos ao último
assunto conhecido: algo sobre as manias derivadas de se morar sozinho.
“Você, por exemplo, está
enrolando isso aí muito bem. Isso, a gente só aprende quando não tem mais quem faça.”
Agradeço o elogio e me pergunto se existe alguma conexão
entre tudo isso... (?)
Poucas coisas me dão tanto prazer na vida quanto um bom
tête-a-tête com alguns amigos seletos. De
preferência, em ambiente com acesso a comes e bebes, música e informação, bom
humor e boas lembranças. Minha casa, modésita à parte, é uma excelente pedida.
A casa de minha amiga Renatinha também: além de linda, é destes ambientes
que sempre suscitaram bons papos. Nada como a boa química humana “shaked but not
stirred” por um bom anfitrião.
Desde
que virei CDF, minha vida social tem se limitado forçosamente a esses très
petits comités, mas, disso, ninguém há de me ver reclamar. São os outros
efeitos de vários meses de reclusão que estão começando a emergir e me
preocupar. Duas coisas, em particular: (1) estou assistindo ao final da novela
Belíssima e (2) comecei a gastar horas de conversa com seres internéticos.
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Acabo de encontrar o texto acima, evidentemente inacabado, no meu computador. Data do começo de 2006, um breve período em que larguei tudo para estudar, no intuito insano de ingressar na carreira do meu pai e avô, a diplomacia. Como nunca vou concluir a postagem - meus rumos mudaram um bocado desde então! - resolvi postar ele aqui assim mesmo: preâmbulo divertido de um texto que nunca foi.
Acho interessante o que ele anunciava, tantos anos atrás. Superei, benzadeus, o ponto (1) acima. Mil vezes ufa!! O ponto (2), por sua vez, segue forte: ambientes "com acesso a música, informação, bom humor e boas risadas" continuam sendo minha personal preferência nacional. Tudo ainda está em seu devido lugar: o tempo passa, a fila anda, as coisas importantes seguem sendo importantes, e cavalos seguem atropelando pessoas todos os dias em algum lugar do mundo.

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